O que aconteceria com aqueles irmãos que morreram antes de Jesus voltar?
A primeira epístola aos Tessalonicenses revela o coração pastoral do apóstolo Paulo, vários temas vão pautar a urgente mobilização de escrever aos irmãos que estavam na comunidade cristã de Tessalônica, dentre tantos assuntos destacados pelo apóstolo dos gentios, um deles sobressai, que é a perspectiva escatológica de Paulo acerca da Parousia de Jesus, ou da segunda vinda de Cristo, do aparecimento do Senhor nos ares. Paulo aborda esta questão porque chega até ele a dúvida perturbadora de muitas pessoas da comunidade acerca do assunto da morte do crente em relação à volta de Cristo. O que aconteceria com aqueles irmãos que morreram antes de Jesus voltar? Por isso, Paulo já quase no final de sua primeira epístola a essa igreja começa discorrer sobre os acontecimentos futuros, injetando ânimo, fé e esperança em alguns irmãos que estavam confusos e preocupados em relação a morte dos cristãos, Paulo apresenta então sua esperança escatológica.
O que é Escatologia?
Antes de entrarmos na discussão propriamente dita, seria interessante de maneira rápida definirmos o que é Escatologia, esta é a doutrina da Teologia Cristã, dentro da Teologia Sistemática que se concentra “nas últimas coisas”, nos acontecimentos finais, muitos definem essa doutrina como sendo “a doutrina do juízo final”, ou algo do gênero, mas não podemos diluir à essência dessa disciplina tão importante, acima de tudo estudar Escatologia é se debruçar sobre o ensino que enfatiza o triunfo do Rei e também do seu povo, é a sistematização dos acontecimentos que giram entorno da vitória do Cristo e da sua igreja.
Em termos práticos escatologia é esperança, esperança em um desfecho glorioso, é o desdobramento e desfecho de todas as coisas. A escatologia geralmente ganha força quando o povo de Deus vive em intensidade de aflições, perseguições e momentos conturbados na história.
Essa doutrina é um dos temas centrais de toda bíblia, e uma das facetas da escatologia cristã é a segunda vinda de Cristo, segundo o renomado teólogo pentecostal Myer Pearlman “A segunda vinda de Cristo é mencionada mais de 300 vezes no NT. Paulo refere-se ao evento umas 50 vezes”.
O apostolo dos gentios escrevendo aos irmãos de Tessalônica vai pôr em ordem de maneira objetiva os eventos que tratam da segunda vinda de Cristo, vou tentar apresentar para você caro leitor a importância destas palavras para os crentes de Tessalônica e a relevância do conceito da “Segunda vinda de Cristo” para igreja contemporânea, haja vista que este é um dos pilares teológicos da comunidade universal de Jesus. Independente de linha escatológica entre as tradições, o cristianismo em sua maioria esmagadora acredita e aguarda à volta do seu Messias, pois afirma-se peremptoriamente que “Jesus Voltará”, como diz o aquele antigo hino “Nossa esperança é sua vinda”.
Paulo e a comunidade cristã de Tessalônica
Paulo vai escrever pelo menos duas vezes para os irmãos de Tessalônica, esta igreja situava-se na cidade que é atualmente conhecida como Salônica.
Acerca do contexto do documento que Paulo escreve, Carson conclui que, “novos crentes tinham problemas com esse conceito em questão (Paroúsia). Paulo lhes diz que não precisam ficar desesperançados com relação aos crentes falecidos, pois estes serão ressuscitados”.
A perspectiva escatológica de Paulo
Assim como na fé cristã a escatologia também tinha um papel central na fé judaica, a literatura hebraica vai estar densamente carregada de conceitos e aspirações apocalípticas.
A literatura apocalítica judaica se desenvolve de maneira pujante basicamente em dois períodos históricos, à saber, posteriormente ao cativeiro babilônico e no período inter-bíblico ou intertestamentário.
Dois períodos na história de Israel que se assemelham no que tange a opressão de povos inimigos (a dominação dos “pagãos” sobre o “povo de Deus”) e a tensão cultural. Nesses dois períodos citados acima vai haver uma produção literária muito grande por parte dos judeus, sendo que a maioria desses escritos é de cunho escatológico-apocalíptico. Uma explicação plausível para a fomentação e o interesse nesse tipo de literatura certamente é o denso sofrimento por parte do povo de Deus e a esperança em um futuro melhor.
Paulo sendo judeu, mais especificamente “fariseu de fariseus” (Cf. Fp 3.5) vai herdar esse entendimento escatológico judaico, com influência dessa teologia produzida após o cativeiro da Babilônia, F.F Bruce endossa essa questão e afirma, “Está claro que Paulo herdou a convicção de uma ressureição futura do corpo, que era muito difundida entre os fariseus”.
Ponderação pastoral do apóstolo à Igreja
Diante do medo e da preocupação dos crentes da comunidade acerca dos irmãos que estavam morrendo, Paulo escreve,
“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas palavras”. 1 Tessalonicenses 4:13-18
Como um bom pastor que era, o autor dessa correspondência vai trazer alento para o coração desses irmãos, explicando de maneira sistemática o que acontecerá com os salvos que morrerem ou que morreram em Cristo (“os que dormem” um eufemismo para Morte), o apóstolo consola sua amada igreja com esse axioma, com essa verdade absoluta que precisa estar acesa em nossos corações. A verdade que a vida não acaba aqui, a certeza que a morte não é o fim para aqueles que creem, como diz Jesus, “Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá” Cf.João 11:25.
Por isso diante dos versículos quero destacar aqui às seguintes frases, primeiro “estaremos com o Senhor para sempre” essa é a esperança da Igreja, essa é a esperança da comunidade universal de Cristo, estar com o seu Senhor para sempre. A igreja espera ansiosa pelo momento onde Yeshua irá romper os céus e irá estabelecer seu Reino Teocrático sobre todas às nações, estabelecendo de maneira perene, Paz e Justiça (Cf. Sl 2; Ap 21:2-3; Zc 14:16; Zc 8:22; Is 35:1-2; Os 2:18; Is 65:22;).
A segunda frase é “Consolem-se uns aos outros com estas palavras”, isso nos leva a entender a importância do ensino da Vinda do nosso Senhor, essa verdade precisa ser destacada, precisamos pregar e ensinar sobre essa realidade, os nossos sermões precisam estar encharcados com essa bendita esperança, nossa Teologia precisa ser temperada com a essência da escatologia bíblica, obviamente de maneira ponderada, sem exageros e distorções textuais, mas pregando o que a bíblia ensina, consolando os abatidos e desanimados com essa doce verdade, que o Senhor virá, esse é uma fato, e que a morte não é o fim.
Conclusão
A admoestações de Paulo acerca da vinda de Cristo vão de certa forma serem preponderantes para a saúde espiritual da igreja de Tessalônica, Paulo vai injetar através de suas palavras, ânimo e esperança no futuro.
As palavras de Paulo ecoam no coração dos crentes de todas as eras, assim como naqueles dias precisamos pregar e anunciar a volta do Senhor.
Vivemos em tempos conturbados, em dias pandêmicos, onde a morte e o caos estão se proliferando, embora constatamos essa verdade, fato é que, muitas igrejas infelizmente abriram suas portas para doutrinas estranhas como “Teologia da prosperidade” ou movimento de “confissão positiva” que nada mais são do que ecos da realidade pós-moderna que ganharam uma conotação religiosa e adentaram em muitas comunidades. As mensagens de cunho escatológico, com ênfase na volta eminente de Jesus que eram tão comuns na antiguidade, estão sendo substituídas por mensagens de autoajuda, antropocêntricas, mensagens com ênfase no presente ou em conquistas pessoais, triunfos transitórios, “aqui e agora”.
Um possível caminho para vencermos estas doutrinas estranhas que tem causado uma visão deturpada de Deus e da sua Palavra, é o resgate da verdadeira mensagem do Evangelho, e a ênfase em um dos principais aspectos que é, à saber, a volta do nosso amado Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Cleber Santos 31 anos, casado com Elisa Cidral, Bacharel em Teologia pela Faculdade Refidim, Pós Graduando em Novo Testamento pela Faculdade Batista do Paraná. Professor de Teologia, Pregador do Evangelho e nas horas vagas Podcaster no PerspCast. Congrega na CENA- Comunidade Evangélica Novo Amanhecer. Autor do livro: “Vá e faça o mesmo: A Parábola do bom samaritano um convite a praticidade do Evangelho”.
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